Sobre parto


Rio de Janeiro, 03 de outubro de 2011.

Indico o site: http://www.partocomprazer.com.br/?p=2141
Indico a matéria: http://guiadobebe.uol.com.br/parto-domiciliar-refletindo-sobre-paradigmas/

Rio de Janeiro, 01 de setembro de 2011.
Na semana passada, eu e o Tiago assistimos a uma palestra sobre "Facilitadores do parto natural e como evitar cesarianas desnecessárias", no Instituto Aurora. Fiquei muito satisfeita do maridão ter me acompanhado. Até então, achava que ele tinha um certo medo do parto.
Na palestra, assistimos diversos vídeos de partos naturais, todos de cócoras. O Tiago saiu tranquilo e eu sai com medo...
Conversei sobre isso com minha doula predileta, a Isadora Crochik, e ela me disse que o medo é o maior inimigo do parto. Desde então, estou travando uma batalha contra ele. Não é que eu tenha ficado impressionada, que tenha visto algo que não esperava. O fato é que os vídeos não são tranquilizadores. Muito pelo contrário. São bem reais e o parto não é um momento pelo qual se passa incólume. Muito pelo contrário. Por isso mesmo, é preciso se preparar. Do mesmo jeito que o medo é o maior inimigo, acho que a preparação é a maior amiga. Continuo lendo a respeito, fazendo yoga, me alimentando bem, me preparando psicologicamente e fazendo o meu mantra de pensamento positivo: "vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo!"


Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2011.
Aqui vou postar informações gerais sobre parto e as minhas experiências a este respeito.
Pra começar, vou falar sobre um livro que a minha cunhada, a doula Isadora Crochick, me indicou: "Quando o corpo consente". O livro é um relato cativante sobre a gravidez de 3 mulheres, sendo uma mãe - Thérèse Bertherat (criadora da antiginástica), sua filha grávida, Marie Bertherat, e uma parteira, Paule Brung. Minha avó Tatália sempre me falou sobre este livro, mas eu ainda não o havia lido. Vou postar aqui sua introdução, que muito me emocionou, escrita por Thérèse Bertherat.
"Este é o diário de minha filha Marie. Com palavras simples, cheias de bom-senso e sinceridade, ela conta o que experimentou em seu corpo e percebeu na própria carne. Durante nove meses. Para lhe transmitir isso, ela prosseguiu sua pesquisa com inteligência e rigor. Sempre de forma generosa e com a doçura obstinada que é o seu jeito de ser.

Mas, que não haja equívoco. Esses nove meses de incerteza, de alegria, de ansiedade, de triunfo que a tornaram mãe não devem ser vistos como convite à caminhada fácil; nem estímulo para o comportamento condescendente e a atitude submissa. Com a força de sua experiência e de sua busca, Marie lhe diz: "não se deixe tapear." Dar à luz é uma aventura pessoal. Diante das normas consensuais da medicina, não renuncie à sua autonomia; se sua gravidez não apresenta sinais de patologia, não se deixe impressionar com o aparato do "progresso", sempre pronto a interferir. Telas de ultra-sonografia, uniforrnes brancos, luvas de látex, perfusões, seringas...
Eu assisti a alguns partos. Difícil de esquecer. A emoção e a intensidade do momento. O suor, o sangue. Além de uma coisa a mais. Na sala toda branca, sob a luz fosforescente, ocorre algo que vem da noite dos tempos. Por entre os aparelhos niquelados, laqueados, cromados há uma espécie de magia. E isso costuma acontecer sempre no mesmo momento: no momento em que as contrações são mais fortes, um pouco antes de aparecer a cabeça da criança e seu rosto coberto de secreções, como o de uma minúscula estátua velada. É aí que surge a magia. Chamo isso de magia, por não achar outra palavra melhor. Uma energia que não tem forma nem cor perpassa a sala. Vinda de onde? De dentro da mulher que lá está dando à luz? Energia que, por um breve instante,
é palpável. Um instante muito rápido. Algo de selvagem, grandioso, violento como a vida e a morte.
Mesmo quem tem o couro duro não fica insensível. Na opinião das parteiras mais calejadas que conheço, a rotina não consegue apagar de todo essa impressão de estranheza. Não é surpreendente que se procure amordaçar e cercear essa força que brota de um corpo de mulher; tal força é quase intolerável para quem não estiver ali intimamente envolvido. Subjugar uma mulher grávida não é difícil. Sim, eis o paradoxo. Nesses momentos, ao lado de tanta força virtual, há muitos temores secretos. Muitas dúvidas e perguntas que ficaram sem resposta. As mudanças que se percebem no corpo e as outras, mais profundas, que o oIho não vê. O embrião, oculto ao olhar, está tão presente quanto ausente. O hábito de confiar em nossos olhos, e apenas neles, nos deixa desconcertadas, preocupadas com aquilo que é chamado o Mistério da Vida e que se passa dentro, na escuridão de nosso corpo.
Torna-se então muito fácil sujeitar-se, entregar-se às autoridades. É muito fácil confiar todos os poderes a quem supostamente sabe, mais do que nós, o que está acontecendo conosco. Um médico, um especialista, um aparelho de ultra-sonografia, um exame de sangue , um exame de urina, qualquer coisa nos inspira mais confiança do que nós mesmas.
Enquanto isso, deixamos escapar o essencial... Não podendo nos fiar em nossos sentidos, privadas de nossos sentidos, passivas e submissas, optamos por deitar, desistir, deixar-nos adormecer e anestesiar.
E, no entanto, a natureza fez tanta coisa para transmitir a vida! Não mede esforços para produzir milhões de espermatozóides cheios de audácia para se propulsarem e uma incansável seqüência de óvulos. Com prodigiosa força de atração, ela lança machos e fêmeas uns ao encontro dos outros. Prepara o corpo da mulher do modo mais engenhoso, a fim de facilitar o contato. Sua solicitude chega até a mergulhar o embrião num líquido salgado, muito parecido com as águas do oceano primitivo.
Como para propiciar a vida, cujo despontar se deu nesse elemento. Depois disso e de tantas outras façanhas destinadas a preservar nossa reprodução, como imaginar que, na última etapa, ela vá sabotar todo esse seu projeto? Como imaginar que o corpo dos mamíferos humanos não seja capaz de dar passagem ao fruto admiravelmente cultivado
durante meses? Como imaginar que a natureza tenha justamente esquecido de prever a saída?
"Todos nós somos belos e bem feitos" é o que reitero em meus livros. E o corpo da mulher é adequado para dar passagem ao feto que ele formou e carregou. Paule, uma parteira muito entendida no assunto, com quarenta anos de ofício, explicou a Marie como é feito o seu corpo e como preparar-se. Como deixar a criança passar pela via estreita. Facilitar a passagem, dar à luz com um corpo que consente, eis o segredo de Paule.
Também a você, ela vai contar seu segredo. Escute essa mulher muito especial, profissional até a ponta dos longos dedos, que nem por isso deixa de ser calorosa e que fala com a ousadia de tantos anos de sucesso.
Se acaso você estiver preocupada e sentir necessidade - posso imaginar - de uma palavra encorajadora, de uma explicação prática, deixe-se levar por Marie e Paule. Elas sabem do que estão falando. Vão ajudá-la a descobrir as potencialidade que há em você. Ajudá-la a ser você mesma, a compreender como facilitar o parto. Permitir o nascimento é o oposto da submissão cega.
Também eu vou lhe falar do trabalho que você pode efetuar em seu corpo e seus sentidos.
"Foi minha boca que me ajudou de fato a ter um parto feliz. E também todo o trabalho com o corpo, que você me havia ensinado." O menino que acabava de nascer quando ouvi essas palavras pela primeira vez deve ter hoje vinte e cinco anos. Sua mãe, uma linda jovem de pele muito clara, fez questão de dar-lhe o nome de "Eugênio", isto é, o bem-nascido. Fiquei emocionada, um pouco surpresa, mas ainda não compreendia.
Desde então, ouvi essas palavras várias vezes. E todas as jovens mulheres que haviam sido minhas alunas acabaram me ensinando por que, sem jamais ter pensado em prepará-Ias para o parto, eu as ajudara a dar à luz de um modo natural. Meu trabalho era de fato uma preparação para o nascimento, mas não apenas para aquele em questão. Essas mulheres nasceram para si mesmas na hora em que lhes nascia o filho.
"Ser é nunca parar de nascer", disse-me certa vez uma delas. Para muita gente, ser é apenas uma fachada. Por trás da fachada, existem as sensações e emoções enterradas dentro do corpo, do qual as pessoas nada sabem; e a organização dos músculos, dos quais sabem muito pouco. Para a mulher grávida, a fachada, moldada de dentro, muda e se transforma. Como ignorar o interior que se impõe a cada momento? É impossível adiar para outro momento. O momento é já.
Não é fácil sentir no próprio corpo a presença de um corpo estranho. Desejado, amado, sonhado mas, apesar de tudo, estranho. Para coabitar com outro ser num mesmo corpo, é preciso tomar consciência da profundidade que existe atrás da fachada. Para sentir mais estabilidade e ficar menos vulnerável, é preciso que você concentre todo o seu ser. Para tornar-se disponível à viela desse outro ente pequenino, você precisa estar disponível a suas próprias sensações. Quando engravida, a mulher tem mais do que nunca o sexto sentido que lhe dá acesso ao próprio corpo. Ela pressente que precisa se concentrar para, depois, se separar.
Não é indispensável estar grávida para ter a sensação de conter em si dois estranhos. A cabeça ignora o corpo, e a cabeça contém dois cérebros, dois hemisférios, que muitas vezes se contradizem. A musculatura do corpo é feita de duas partes conflitantes. Os próprios sentidos estão subjugados por um deles, a visão, que bloqueia a passagem de todos os outros.
O milagre é que as mulheres são capazes de reunir corpo e espírito, o físico e o psíquico, a força e a fraqueza. Durante nove meses, a natureza lhes oferece este presente: apagar a dualidade de seu ser e tomar consciência de sua unidade."
Thérêse Bertberat