terça-feira, 1 de abril de 2014

Minha experiência: episiotomia, um ótimo anticoncepcional

O meu segundo parto, quando nasceu o meu filho Luca, não foi uma experiência ruim. Na véspera, à noite, saiu o tampão mucoso com um pouco de sangue. Às 3 da manhã, tive uma diarreia. Só tive certeza que as dores que sentia eram contrações e não dores intestinais as 4 da manhã. Acordei o meu marido, ele começou a medir as contrações que estavam vindo de 3 em 3 minutos. Achou que estava medindo errado e acordou a nossa doula, minha cunhada Isa que dormia no quarto ao lado. Ela mediu e era isso mesmo. Resolveu fazer o toque: 6 de dilatação. Avisamos ao médico e fomos para o hospital que ficava a 5 minutos da minha casa. Cheguei lá com 8 de dilatação, fomos para a sala de parto. Cheguei lá com 10 de dilatação. O obstetra disse que o meu filho não estava encaixado. Minha doula perguntou se eu me lembrava dos exercícios que tinha aprendido na aula de parto para ajudar o neném a encaixar. Naquela situação eu não lembrava de mais nada, mas me ocorreu que ficar deitada não era uma boa. Estava deitada desde que chegara ao hospital. Pedi para ficar de pé e assim que o fiz a bolsa estourou. Senti, então, uma dor alucinante e pedi para ser anestesiada. Sabia que com anestesia viria um pacote. Foi o que aconteceu: me deitaram, anestesiaram até eu quase ficar desacordada. Eu não sentia mais as contrações, então empurraram a minha barriga, apesar do meu marido pedir para não o fazerem, e fizeram a episiotomia. O meu filho nasceu 15 minutos depois da chegada à sala de parto. Neste momento eu não estava me importando por terem feito tudo o que eu havia pedido que não fizessem. Eu só queria que o meu filho nascesse e que ficássemos todos bem. Foi o que aconteceu.

Porém, o pós-parto foi muito complicado. Eu havia aprendido que, no caso de se fazer hepisio (como o procedimento é carinhosamente chamado), uma almofada dessas que é vendida para quem opera hemorroidas era uma boa. Porém, nunca imaginei que fosse tão essencial e não tinha comprado a minha. Depois de uns dias sentindo muita dor o meu marido saiu para comprar uma. Não encontrou e voltou de mãos abanando. Eu não conseguia me sentar sem sentir MUITA dor, a não ser na cadeira para amamentar, uma berger. E olha que eu sou forte para dor. Depois de uns dias, um dos pontos inflamou. A dor triplicou. Era apenas um pontinho inflamado. Mas já pensou o que é ter um machucado e sentar sobre ele? Pior, colocar um absorvente nele, depois a calcinha, que fica mexendo a cada movimento e manter o curativo fechado? Fechado e encharcado de sangue (eu sangrei por 40 dias). Posso dizer que é ruim. Mas para algumas pessoas dura alguns dias, cicatriza e fica tudo bem. Só que depende do que foi cortado. Pensa que o médico sabe o que está cortando? Não, ele não tem controle. Pode ser apenas a pele do períneo, ou pode ser muito mais. No meu caso foi muito mais. Por isso a ONS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a episiotomia não seja feita rotineiramente. 
Os pontos secaram e sumiram mas a minha dor intensa durou mais de 40 dias. E depois, mais 9 meses doendo sem conseguir ter relações sexuais. Um ótimo anticoncepcional, essa tal de episio!
Por isso, para o parto da Nina procurei um médico que trabalha na conscientização necessária para a mudança de paradigma em relação à episiotomia. Episio, só se for necessário. É como a cesária, não se faz a toa.
Por isso também busquei artigos na OMS sobre o tema. Já tinha lido diversos livros e artigos e todos sitavam a OMS. Fui direto à fonte. Segue um dos artigos que encontrei. Livre tradução com ajuda de tradutores on line.


A EPISIOTOMIA PARA PARTO VAGINAL

Limitar o uso da episiotomia para indicações rigorosas tem uma série de benefícios: menos trauma perineal posterior , menos sutura e menos complicações. Embora a episiotomia possa aumentar o risco de trauma perineal anterior não causa uma redução na maioria das medidas de dor e trauma vaginal ou perineal grave.


1 . RESUMO DAS PROVAS

O uso restritivo da episiotomia em partos vaginais sem complicações , ao contrário de episiotomia de rotina está associada a um menor risco de trauma perineal posterior requerendo sutura. Não há nenhuma diferença no risco de trauma grave vaginal ou perineal , dor , dispareunia ou incontinência urinária . No entanto , há um aumento do risco de trauma perineal anterior . Esta correcção não resolve a questão sobre o tipo de episiotomia deve ser escolhido , médio ou médio-lateral .

Todos os ensaios controlados de forma adequada , que pode ser identificados foram incluídos.


2. RELEVÂNCIA PARA BAIXA RENDA

2.1 . Magnitude do problema

Infelizmente , a episiotomia de rotina ou uso liberal da episiotomia , é muito comum na falta de recursos e, em alguns países desenvolvidos. É provável que estes contribuem para a persistência no uso desta prática também dotada, apesar da evidência esmagadora contra a sua utilização de rotina .

Tendo em conta que em muitos países, o HIV / SIDA continua a crescer rapidamente e, na maioria dos países afetados , mais de um terço das mulheres são crianças infectadas pelo HIV , considere tanto protecção dos trabalhadores de saúde e os riscos de transmissão vertical associado ao uso da episiotomia . Durante episiotomia sutura há um alto risco de picar o dedo , especialmente se você usar uma pequena agulha. Os dados atuais indicam que , possivelmente, tenha subestimado o papel da transmissão vertical do HIV no nascimento. Portanto , qualquer intervenção pode aumentar o risco de transmissão vertical .

Devido a isso , em países em desenvolvimento , bem como os desenvolvidos , são mais do que suficientes para neutralizar o uso excessivo de episiotomia .

2.2 . Viabilidade da intervenção

Alguns países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento , conseguiu reduzir a freqüência de episiotomia .

O aumento moderado do trauma anterior demonstrado pela revisão não deve ser visto como um factor de dissuasão . Em geral , o trauma perineal anterior é ligeira e , como mostrado indirectamente na análise Cochrane , o aumento do trauma anterior , não foi associada com o aumento do trauma ou mais severa necessitando de sutura.

2.3 . Aplicabilidade dos resultados da Cochrane Review

Os resultados da revisão aplicam-se igualmente aos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento . No entanto, o uso rotineiro de episiotomia em mulheres que tiveram algum tipo de mutilação genital é uma área que deve ser investigada. Na maioria das formas mais avançadas , a MGF restringe significativamente o orifício vaginal ; praticando parteiras e pessoal médico , em tais casos, incluindo a episiotomia de rotina. Não existe informação suficiente sobre a implementação ideal de episiotomia em mulheres com mutilação genital , seja na indicação e técnica.

2.4 . Implementação da intervenção

Alguns países têm limitado o uso da episiotomia para indicações rigorosas através da adesão aos protocolos padrão, formação e reciclagem e monitoramento de processos e melhoria da qualidade. Levando em conta a força da evidência eo uso freqüente do procedimento, reduzindo as taxas de episiotomia pode ser considerado um teste decisivo para a implementação de serviços de saúde reprodutiva baseada em evidências.

2.5 . Pesquisa

Mais pesquisas são necessárias sobre os méritos relativos de episiotomia mediana contra episiotomia médio-lateral . Neste caso, os resultados de estudos clínicos controlados em países desenvolvidos também pode ser aplicado em ambientes pobres em recursos .

Estudos sobre as consequências de obstetrícia da mutilação genital feminina deve analisar o valor da episiotomia neste grupo de mulheres.

Fontes de Financiamento: Organização Mundial da Saúde, Genebra, Suíça.

Este documento deve ser citado como : Liljestrand J. episiotomia para o parto vaginal : comentário RHL (última revisão em : October 20 , 2003). A Biblioteca de Saúde Reprodutiva da OMS, em Genebra: Organização Mundial da Saúde. Episiotomía en el parto vaginal.


Versão original:

La limitación del uso de la episiotomía a indicaciones estrictas tiene una serie de beneficios: menos traumatismo perineal posterior, menos necesidad de sutura y menos complicaciones. Si bien la episiotomía puede aumentar el riesgo de traumatismo perineal anterior, no provoca una reducción en la mayoría de las medidas de dolor y de traumatismo perineal o vaginal severos.

1. RESUMEN DE LA EVIDENCIA

El uso restrictivo de la episiotomía en partos vaginales sin complicaciones, en oposición a la episiotomía de rutina, se asocia a un menor riesgo de traumatismo perineal posterior y necesidad de sutura. No existe diferencia en cuanto al riesgo de traumatismo vaginal o perineal severos, dolor, dispareunia o incontinencia urinaria. Sin embargo, hay un riesgo aumentado en el traumatismo perineal anterior. Esta revisión no resuelve la pregunta acerca del tipo de episiotomía que se debería elegir, la mediana o la mediolateral.

Se incluyeron todos los estudios clínicos adecuadamente controlados que pudieron identificarse.

2. RELEVANCIA EN LUGARES DE ESCASOS RECURSOS

2.1. Magnitud del problema

Lamentablemente, la episiotomía de rutina o el uso liberal de la episiotomía, es muy frecuente en lugares de escasos recursos y en algunos países desarrollados. Es probable que estos últimos contribuyan a la persistencia en cuanto al uso de esta práctica también en lugares de escasos recursos, a pesar de la abrumadora evidencia contra su uso rutinario.
Si se tiene en cuenta que, en muchos países, la epidemia de VIH/SIDA todavía continúa creciendo rápidamente y que, en la mayoría de los países afectados, más de un tercio de las mujeres tienen neonatos infectados por VIH, se debe considerar tanto la protección de los trabajadores de la salud como el riesgo de transmisión vertical asociado con el uso de la episiotomía. Durante la sutura de las episiotomías existe un alto riesgo de pincharse un dedo, en especial si se utiliza una aguja pequeña. Los datos actuales indican que posiblemente se ha subestimado el papel de la transmisión vertical de la infección por VIH en el parto. Por lo tanto, cualquier intervención puede incrementar el riesgo de transmisión vertical.
Debido a esto, en los países en vías de desarrollo, así como en aquellos desarrollados, existen motivos más que suficientes para contrarrestar el uso excesivo de la episiotomía.

2.2. Factibilidad de la intervención

Algunos países, tanto desarrollados como en vías de desarrollo, redujeron satisfactoriamente la frecuencia de las episiotomías.
El aumento moderado del traumatismo anterior demostrado por la revisión no debería considerarse como un factor de impedimento. En general, el traumatismo perineal anterior es leve y, como se demuestra indirectamente en la Revisión Cochrane, el aumento en el traumatismo anterior no se asoció al incremento en el traumatismo severo o a una mayor necesidad de sutura.

2.3. Aplicabilidad de los resultados de la Revisión Cochrane

Los resultados de la revisión se aplican de igual modo a países desarrollados y a aquellos en vías de desarrollo. No obstante, el uso rutinario de la episiotomía en las mujeres que padecieron algún tipo de mutilación genital es un área que se debe investigar. En la mayoría de las formas más avanzadas, la mutilación genital femenina restringe el orificio vaginal significativamente; la práctica de las parteras y el personal médico, en esos casos, incluye la episiotomía de rutina. No se cuenta con información suficiente acerca de la aplicación óptima de la episiotomía en mujeres con mutilación genital, tanto sobre la indicación como la técnica.

2.4. Implementación de la intervención

En algunos países se ha limitado el uso de la episiotomía a indicaciones estrictas a través del cumplimiento de protocolos estándar, capacitación y repetición de la capacitación y procesos de supervisión y mejora de la calidad. Si se tiene en cuenta la solidez de la evidencia y el uso frecuente del procedimiento, la reducción de las tasas de episiotomía pueden considerarse como una prueba de fuego para la aplicación de la atención de la salud reproductiva basada en la evidencia.

2.5. Investigación

Es necesario realizar más investigaciones acerca de los méritos relativos a la episiotomía mediana versus la episiotomía mediolateral. En este caso, los resultados de los estudios clínicos controlados efectuados en países desarrollados también podrían aplicarse en lugares de escasos recursos.
Los estudios sobre las consecuencias obstétricas de la mutilación genital femenina deberían analizar el valor de la episiotomía en este grupo de mujeres.
Fuentes de financiación: Organización Mundial de la Salud, Ginebra, Suiza.

Este documento debería citarse como: Liljestrand J. Episiotomía en el parto vaginal: Comentario de la BSR (última revisión: 20 de octubre de 2003). La Biblioteca de Salud Reproductiva de la OMS; Ginebra: Organización Mundial de la Salud.

Recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) no Atendimento ao Parto Normal

A) Condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas 
  1. Plano individual determinando onde e por quem o parto será realizado, feito em conjunto com a mulher durante a gestação, e comunicado a seu marido/ companheiro e, se aplicável, a sua família. 
  2. Avaliar os fatores de risco da gravidez durante o cuidado pré-natal, reavaliado a cada contato com o sistema de saúde e no momento do primeiro contato com o prestador de serviços durante o trabalho de parto e parto.  
  3. Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher ao longo do trabalho de parto e parto, assim como ao término do processo do nascimento.  
  4. Oferecer líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto.  
  5. Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto, após ter recebido informações.  
  6. Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante.  
  7. Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.  
  8. Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.  
  9. Respeitar a escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de parto e parto.  
  10. Oferecer às mulheres todas as informações e explicações  que desejarem.  
  11. Não utilizar métodos invasivos nem métodos farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto e parto e sim métodos como massagem e técnicas de relaxamento.  
  12. Fazer monitorização fetal com auscultação intermitente.  
  13. Usar materiais descartáveis ou realizar desinfeção apropriada de materiais reutilizáveis ao longo do trabalho de parto e parto.  
  14. Usar luvas no exame vaginal, durante o nascimento do bebê e na dequitação da placenta.  
  15.  Liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto.  
  16. Estímulo a posições não supinas (deitadas) durante o trabalho de parto e parto.  
  17. Monitorar cuidadosamente o progresso do trabalho do parto, por exemplo pelo uso do partograma da OMS.  
  18. Utilizar ocitocina profilática na terceira fase do trabalho de parto em mulheres com um risco de hemorragia pós-parto, ou que correm perigo em consequência de uma pequena perda de sangue.  
  19. Esterilizar adequadamente o corte do cordão.  
  20. Prevenir hipotermia do bebê.  
  21. Realizar precocemente contato pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno. 
  22.  Examinar rotineiramente a placenta e as membranas.
  B) Condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas
  1. Uso rotineiro de enema.  
  2. Uso rotineiro de raspagem dos pelos púbicos.  
  3. Infusão intravenosa rotineira em trabalho de parto.  
  4. Inserção profilática rotineira de cânula intravenosa.  
  5. Uso rotineiro da posição supina durante o trabalho de parto.  
  6. Exame retal.  
  7. Uso de pelvimetria radiográfica.  
  8. Administração de ocitócicos a qualquer hora antes do parto de tal modo que o efeito delas não possa ser controlado.  
  9. Uso rotineiro da posição de litotomia com ou sem estribos durante o trabalho de parto e parto.  
  10. Esforços de puxo prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) durante o período expulsivo.  
  11. Massagens ou distensão do períneo durante o parto.  
  12. Uso de tabletes orais de ergometrina na dequitação para prevenir ou controlar hemorragias.  
  13. Uso rotineiro de ergometrina parenteral na dequitação.  
  14. Lavagem rotineira do útero depois do parto.  
  15. Revisão rotineira (exploração manual) do útero depois do parto.  

C) Condutas frequentemente utilizadas de forma inapropriadas 
  1. Método não farmacológico de alívio da dor durante o trabalho de parto, como ervas, imersão em água e estimulação nervosa. 
  2. Uso rotineiro de amniotomia precoce (romper a bolsa d’água) durante o início do trabalho de parto. 
  3. Pressão no fundo uterino durante o trabalho de parto e parto.  
  4. Manobras relacionadas à proteção ao períneo e ao manejo do polo cefálico no momento do parto.  
  5. Manipulação ativa do feto no momento de nascimento.  
  6. Utilização de ocitocina rotineira, tração controlada do cordão ou combinação de ambas durante a dequitação.  
  7. Clampeamento precoce do cordão umbilical. 
  8. Estimulação do mamilo para aumentar contrações uterinas durante a dequitação.
D)  Condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado    
  1. Restrição de comida e líquidos durante o trabalho de parto.  
  2. Controle da dor por agentes sistêmicos.  
  3. Controle da dor através de analgesia peridural.  
  4. Monitoramento eletrônico fetal .  
  5. Utilização de máscaras e aventais estéreis durante o atendimento ao parto.  
  6. Exames vaginais freqüentes e repetidos especialmente por mais de um prestador de serviços.  
  7. Correção da dinâmica com a utilização de ocitocina.  
  8. Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do trabalho de parto.  
  9. Cateterização da bexiga.  
  10. Estímulo para o puxo quando se diagnostica dilatação cervical completa ou quase completa, antes que a própria mulher sinta o puxo involuntário.  
  11. Adesão rígida a uma duração estipulada do segundo estágio do trabalho de parto, como por exemplo uma hora, se as condições maternas e do feto forem boas e se houver progresso do trabalho de parto.  
  12. Parto operatório (cesariana).  
  13. Uso liberal ou rotineiro de episiotomia. 
  14. Exploração manual do útero depois do parto.